Tem se tornado moda a pregação chamada “Coach”, ou seja, um tipo de pregação que adota princípios de mentalidade e postura que visam obter o sucesso na vida terrena.
Pregadores desse tipo costumam usar frases como “Deus pôs você como cabeça e não como cauda”, “seu sucesso só depende de você”, e “como filho de Deus, você tem direito ao melhor desta Terra”.
É bem verdade que nem todos os propagadores dessas ideias são teólogos de fato: muitos são apenas palpiteiros, que nunca se preocuparam em ler a Bíblia com uma visão devocional, mas apenas em extrair dela supostas bases para conceitos já preestabelecidos, apontando para o sucesso que julgam que o cristão tem direito a alcançar na sua vida terrena, sucesso esse medido de acordo com os padrões do mundo.
Conhecedores da Bíblia ou não, um versículo que certamente esses coaches ignoram é
Jesus lhe respondeu:
(Mateus 8:20 – KJA)
“As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos,
mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”.
A resposta de Jesus ao escriba que disse desejar segui-lo mostra que o que o verdadeiro seguidor de Jesus pode esperar deste mundo não é o que tais pregadores alardeiam: se o próprio Jesus viveu uma vida humilde, em meio a rejeições, traições e tendo apenas o básico para se manter, tal como também aconteceu com os apóstolos, é tolice imaginar que os cristãos de hoje terão vida fácil e obterão a satisfação de seus desejos.
Existem outras passagens ainda mais claras a respeito do que o seguidor de Jesus pode esperar neste mundo:
Então disse Jesus aos seus discípulos:
(Mateus 16:24 / 10:22 – ACF)
Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me;
(…)
E odiados de todos sereis por causa do meu nome;
mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.
A verdade é que tais ideias não apenas não encontram respaldo na Bíblia, como sequer no dia a dia!
Um dos grandes erros que esses pregadores e seus seguidores cometem é acreditar que o sucesso depende apenas do esforço pessoal. Isso não é verdade, não depende apenas da dedicação de cada um, por maior que ela possa ser: alcançar o sucesso envolve circunstâncias e oportunidades que, na maioria das vezes, não estão sob o controle da própria pessoa e um exemplo disso é
Bill Gates
Não se trata de nada que desmereça a sua genialidade no mundo da computação, porém ele admitiu que, quando iniciou a sua trajetória, ele teve uma vantagem que a imensa maioria das pessoas não tem, a saber, o acesso a computadores.
Nos anos 70 os computadores eram, além de exorbitantemente caros e, portanto, inacessíveis à maioria das pessoas, reservados a ambientes ao qual nem todos tinham acesso, como Universidades: Gates, porém, morava próximo a uma Universidade onde era possível, por uma pequena taxa, acessar e trabalhar nos computadores locais.
E ele morava tão próximo à mesma, que podia ir e voltar a pé. Assim, caso ele não tivesse tido tal vantagem (que, como foi dito, não anula de maneira alguma a sua genialidade), a Microsoft sequer existiria hoje.
Portanto, é perfeitamente lógico imaginar que inúmeros outros talentos, muitos certamente geniais, nunca despontaram e apareceram para o mundo.
E por que isso aconteceu? Por falta de empenho de quem os possuía?
Não necessariamente: pode ser simplesmente devido ao fato de que a circunstâncias não lhes foram favoráveis, fazendo com que as oportunidades não surgissem e, por isso, as portas do sucesso nunca lhes foram abertas.
ROBÔS
Outro erro da pregação “coach” é crer que, para se obter o sucesso, é preciso “estar sempre focado e alcançar as metas necessárias em todas as chances que aparecerem”.
Qualquer pessoa de bom senso sabe, de antemão, que tal coisa é humanamente impossível: ninguém consegue estar focado em um objetivo por todo o tempo, muito menos ser bom em tudo e sempre bater as metas.
O ser humano tem limitações, não é uma fonte inesgotável de energia e muito menos de perfeição. As pessoas se cansam, precisam ter seus momentos de repouso e, além disso, não vão acertar sempre, ser o tempo todo boas naquilo que realizarem.
Tal ideia transforma o ser humano em um tipo de robô, negando suas próprias limitações e fazendo com que os que aceitam tal parâmetro acabem por perder a própria saúde, por não terem os momentos nos quais possam “baixar a guarda”, muito necessários para evitar o estresse permanente, que pode até acabar com suas vidas.
A própria palavra “robô” — derivada de “robota”, na língua tcheca — significa “serviçal”, ou mesmo “escravo”, sendo originária dos tempos do feudalismo, em que os camponeses eram forçados a jornadas de trabalho extremamente longas e pesadas, como condição para poderem viver nas terras de seus suseranos.
Não é de se surpreender que a maioria dos “robotas” morressem cedo: uma grande parte sequer chegava aos 40 anos!
E muitos hoje acabam por se enveredar pelo mesmo caminho, pagando o preço de sua ambição arruinando sua saúde e, em casos extremos, até perdendo a própria vida.
A título de curiosidade, no Japão já existe inclusive um termo para isso, “Karoshi”, que pode ser traduzido como “morte por excesso de trabalho”, devido à alta incidência de casos desse tipo nas últimas décadas.
A ILUSÃO DO SUCESSO
Por fim, outro erro a ser destacado é algo que não se restringe à mentalidade do mundo “coach” infiltrado no mundo Gospel: NEM SEMPRE O SUCESSO TERRENO É UMA COISA BOA.
Por mais estranho que isso possa parecer, há casos em que o sucesso arruína a vida de uma pessoa.
Na série “Autópsia de Famosos”, do Discovery Channel, por exemplo, há um caso — a saber, o de Kurt Cobain — que ilustra bem essa realidade: desde a adolescência o líder do Nirvana desejava tão ardentemente ser uma estrela mundial da música que empregou todo o seu tempo e energia para alcançar isso.
Tendo sido criado como cristão, era frequentemente advertido pelos membros de sua família e igreja (no caso, a Presbiteriana) a respeito de seus vícios em drogas, como a heroína, que usava para lhe dar mais energia e disposição para shows e horas de trabalho árduo em composições e ensaios, bem como para aliviar a violentas dores de estômago e coluna, causados por uma acentuada escoliose: era tão obcecado pelo sucesso que acabou por abandonar sua fé.
Porém, isso nunca lhe trouxe a felicidade e a paz de espírito que procurava.
Christopher Sandford, biógrafo de Kurt, foi um dos entrevistados no episódio em questão e afirmou que “Kurt fez de tudo para se tornar um astro mundial e, quando conseguiu, ele não gostou de como era”.
O resultado foi o suicídio, como todos sabem, fazendo-o juntar-se ao chamado “Clube dos 27” — artistas musicais que morreram com essa idade —, que já contava com Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison e, anos depois, incluiria Amy Winehouse.
O sucesso o afastou de Deus, o fez mergulhar em um mundo que o mantinha distante de seu Criador e, por fim, custou sua vida… como é possível dizer que o sucesso fez bem para ele?
PARAÍSO NA TERRA?
Nota-se, portanto, que muitos crentes do mundo atual querem construir uma espécie de paraíso na Terra, ao menos um paraíso particular, no qual desfrutem de prazeres que podem não ser — e na maioria das vezes realmente não são — algo que lhes fará bem.
A maior razão de sucesso de muitos desses pregadores “coaches” pode ser resumida na citação do Pr. Josemar Bessa: “O problema do cristão contemporâneo é querer ser um sucesso em um mundo para o qual já deveria ter morrido”.
A promessa de Deus para o cristão, no entanto, não é de dias vitoriosos e felizes na Terra, mas sim, na Nova Jerusalém, quando reinará para sempre, juntamente com Cristo (veja 2 Timóteo 2:12).
Isso, nada neste mundo é capaz de compensar, igualar ou mesmo servir como prêmio de consolação.
E tal não apenas porque o que significa o reino eterno que Deus dará aos salvos está fora da compreensão humana (veja 1 Coríntios 2:9), como também por se tratar de algo eterno, que durará pelos séculos dos séculos (veja Apocalipse 22:3).
Muito diferente, portanto, daquilo que o sucesso terreno pode trazer, por tratar-se de algo transitório, que será desfeito em chamas tão logo o juízo de Deus chegar:
Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite;
(2 Pedro 3:10-12 – ACF)
no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra,
e as obras que nela há, se queimarão.
Havendo, pois, de perecer todas estas coisas,
que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade,
Aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus,
em que os céus, em fogo se desfarão,
e os elementos, ardendo, se fundirão?
Os coaches e seus seguidores se preocupam mais com coisas que perderão tão logo deixarem este mundo — seja pela morte ou pelo juízo divino — do que com aquilo que viverão na eternidade, que nunca terá fim.
A futilidade maior da pregação coach, portanto, não é nem sequer a falácia de acreditar que todo cristão tem de obter sucesso na vida terrena, mas sim, o de menosprezar o que é celestial.
E o mais impressionante é saber que, diferente do sucesso terreno (que demanda um esforço muitas vezes sobre-humano e não é garantido), o verdadeiro sucesso, o eterno, é garantido para aqueles que confiam em Jesus como seu Senhor e Salvador, Senhor esse que já pagou o preço humanamente impagável dos pecados da humanidade.
Diferente de qualquer sucesso terreno, que não deixa de ter seus problemas, na Nova Jerusalém não existe mais morte, luto, pranto ou dor (vide Apocalipse 21:4), apenas alegria incessante e o desfrute do amor de Deus.
Que a medida de sucesso do cristão seja por aquilo que ele busca para sua existência eterna, não terrena: um alto preço foi pago por Jesus para isso.
Não subestimemos a obra de nosso Redentor, atentando para as coisas da Terra como prioridade: tudo isso vai passar.
A morada dos santos é celestial e, portanto, eterna.
Nos Laços do Calvário
Eduardo Pydd
Nascido na Porto Alegre de 1973, exerceu ministério pastoral na IELB — Igreja Evangélica Luterana do Brasil entre 1999 e 2008. Radicado em São Paulo desde o final de 2008.
TÍTULO ORIGINAL: PREGAÇÃO COACH
Os cães gulosos mencionados em Isaías 56:9-12 parecem nunca ter largado o osso e agora, em sua versão “coach”, pregam distrações capazes de desviar a atenção da realidade apresentada pelas Escrituras.
Este é apenas mais um indício de que os tempos finais estão se configurando vez mais rapidamente e, antes que o Senhor volte como um ladrão na noite, é necessário que o profetizado reinado do anticristo se consolide não apenas no Brasil, mas por todo o mundo!
Na fase 2023 d’O Pior evangelho decidi lançar mão de novos formatos na expectativa auxiliar a aumentar o alcance dos conteúdos relacionados às Escrituras — stories, vídeos, textos mais curtos, autores convidados… — e essa publicação, onde tomei a liberdade de realizar revisão e ilustração, é parte desse projeto.
Obrigado por ter lido até aqui.
Continuo necessitando de toda colaboração possível: comentários, compartilhamentos e reações ajudam a divulgar este conteúdo que foi integralmente produzido na intenção de colaborar para a edificação do Corpo de Cristo no mundo.
Tenho vergonha de pedir.
Odeio incomodar os leitores e passei o ano de 2023 inteiro apenas publicando comentários, como os acima, em letras castanhas sem qualquer pretensão de ser incisivo em meus pedidos. Fiz isso porque ainda depositava uma pequena parcela de credibilidade na justiça e aguardava que ela, diante de minha incontestável deficiência, intimasse a seguradora a honrar o seguro funcional que me vendeu.
Só que deu tudo errado e nem os mais altos graus dos juízes deste país recusam suborno!
De súbito, fui lançado numa situação de extrema necessidade financeira e tanto os links imediatamente acima quanto o vídeo ao lado podem esclarecer o nível de desespero que me acomete e me traz a publicar esse apelo ao final da maioria de minhas publicações.
Peço perdão pelo incômodo, mas peço que, por favor, assista e ajude não apenas a manter esse site, mas também o próprio editor e sua família, com vida e saúde: eu realmente sentiria muita vergonha de expor tudo isso se não fosse a mais pura realidade.
Colabore via Paypal:
https://www.paypal.com/donate/?hosted_button_id=HAHGBQDAEUTCJ
Colabore com um PIX:
Agradeço pela atenção e rogo a Deus que, independente do valor ofertado, multiplique as bênçãos e livramentos nas vidas daqueles que se se dispuserem a colaborar.
Parafraseando o apóstolo Paulo em Efésios 6:23-24, que a graça e a paz sejam conosco, todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade, hoje e para todo o sempre!