Uma das maiores lições da minha vida foi aprendida semana passada.
Advirto que o texto a seguir é pesado e triste, mas pode ser de grande valor para quem buscar entender o seu ensino.
Um cachorro, mestiço de galgo e poodle, que veio para nosso lar há mais de 13 anos, com o pelo todo preto, o que lhe rendeu o nome de “Negão”, pelo qual aprendeu a nos atender, passou por uma das maiores dores físicas, e a mim, isso rendeu uma dor emocional e especialmente espiritual, mas que foi um aprendizado dos mais valiosos.
Não vou esconder que ele tinha um temperamento difícil — ao falar no pretérito, certamente alguns já serão capazes de concluir o que se passou… — e era um bocado agressivo, só se dando bem conosco mesmo: quando, em 2016, a minha filha Débora veio morar conosco, por cerca de seis meses teve de ficar saindo e entrando em casa pela janela, porque ele a estranhava!
Foi um problemão até acostumar-se com ela, mas depois se tornou tão dócil com ela quanto já era comigo e com a minha esposa.
SOFRIMENTO
Na manhã de terça-feira ele estava aparentemente normal, brincando, pulando e saltitando, não tinha absolutamente qualquer sintoma aparente de doença. Porém, no final da tarde, quando o vi novamente, percebi que ele fazia um tremendo esforço, chegando a gemer e ganir, para evacuar e — o pior — havia respingos de sangue por onde ele andava.
Olhando mais de perto, veio o choque: seu reto estava tomado por caroços vermelhos que, juntos, tinham mais ou menos o tamanho de uma bola de tênis!
Imediatamente fui para o hospital veterinário aqui próximo de casa com a Débora.
No exame do nosso pet foi constatado um tumor que se revelou cancerígeno — de imediato isso foi percebido, porque um tumor benigno não se espalha para outros órgãos… e o dele tinha se iniciado no testículo e passado para o intestino.
Como se isso já não fosse terrível o suficiente, esse tumor também estava atacado por um tipo de miíase, popularmente chamada de “bicheira”: as larvas haviam crescido exatamente no tumor e, devorando-o, retiravam seu invólucro, ajudando a espalhar células cancerosas pelo corpo.
Até seu intestino já estava muito afetado…
Os três dias seguintes foram de noites maldormidas, acordando para dar a medicação no horário certo, fazer lavagem na região afetada… de nada adiantou. Inclusive, como se vê na foto — este, aliás, é o único registro que temos dele, pois nunca poderíamos imaginar que ele partiria de forma tão cruel e repentina — tivemos de colocar um cone para evitar que ele lambesse a região.
Ele passava as noites se debatendo, tentando desesperadamente se coçar, e cada gemido que ouvíamos era como uma facada em nossos corações.
Levamos o Negão a outro hospital, onde lhe foi receitado um remédio para evitar que sentisse dor.
Quando minha filha foi comprá-lo e eu fiquei no carro com ele, aconteceu algo curioso: parecia que ele queria aproveitar os últimos momentos que teria comigo e vinha para o meu colo, deitando a cabeça no meu peito e, tocando minha mão com a pata, colocava a cabeça sob ela, pedindo carinho.
DESPEDIDA
Ontem, por volta das 19h, aconteceu algo que mostrou que não havia mesmo mais volta: nada mais parava no estômago dele, nem comida e nem remédio. Ele comia, tomava os remédios e vomitava em menos de 5 minutos.
Ele vomitou mais duas vezes ao longo da madrugada e evacuava verdadeiras poças de sangue — do tamanho da palma da minha mão— onde também já era possível ver até pedaços do seu intestino e dos tumores, além de continuar se debatendo.
Passei essa madrugada em claro, tomando conta dele e lavando o quintal.
Pela manhã e em família, tomamos a difícil decisão de deixar nosso amiguinho partir, pois seu sofrimento era atroz e não havia sentido em prolongá-lo, pois isso não levaria a nada.
E lá fomos eu e Débora para o hospital, sabendo que não voltaríamos mais com o nosso pet de tanto tempo para casa, enquanto a minha esposa ficou em casa aos prantos, nos ligando para ajudar a determinar o que seria melhor com o veterinário.
O mais duro foi o fato de que, pela norma do hospital, em caso de aplicação de eutanásia, alguém da família precisa estar presente, como testemunha de que o pet não foi maltratado. Obviamente a Débora, que nem segurava mais as lágrimas, não poderia fazer isso, de modo que eu me tornei o encarregado dessa dolorosa missão.
E lá se foram os cerca de dez minutos segurando o nosso amigo, fazendo carinho para acalmá-lo, enquanto o veterinário aplicava a anestesia que o fez dormir em cerca de dez segundos. Eu passava a mão no seu rosto enquanto ele perdeu a consciência, me olhando nos olhos, serenamente, como se estivesse tanto se despedindo quanto agradecendo por todo o tempo que passou conosco.
A seguir veio a aplicação do cloreto de potássio, que provoca a parada cardíaca e, em aproximadamente um minuto… lá se foi deste mundo, para sempre, o meu amiguinho.
A LIÇÃO
Agora sou capaz de entender a lição que Deus quis me ensinar nesses quatro dolorosos dias: compreender a que ponto o pecado desgraçou a criação divina!
No tempo em que trabalhei como pastor já havia passado por tal experiência com membros da congregação — e, inclusive, com meu próprio pai, que também perdeu a batalha contra o câncer —, mas as pessoas nem sempre demonstram seu real sofrimento: muitas vezes elas escondem o que de fato estão sentindo, talvez até com a boa intenção de evitar o sofrimento dos que estão ao redor.
Um pet, porém, não esconde suas dores e desconfortos: foram quatro dias ouvindo o meu amigo ganir, gemer, se atirar contra as paredes… e só se acalmar quando estava a tal ponto exausto que simplesmente desmaiava de sono, acordando apenas para continuar a suportar esse tormento.
Como disse anteriormente: os remédios não paravam mais no seu estômago, de modo que ele não tinha mais um momento sequer de alívio.
Constatar que ele ia ficando cada vez mais fraco a cada vez que abria a porta do quintal para ver como ele estava, me fez ver testemunhar isso ininterruptamente e despertou, de forma clara e chocante, para o quão horrível é essa coisa chamada “pecado”.
Ao desobedecerem a Deus, Adão e Eva condenaram não apenas a si mesmos, mas a todos nós e, conjuntamente, a todos aqueles a quem Deus colocou sob o domínio da raça humana: a condenação à morte não só determina o fim da vida que se conhece — e isso pode acontecer de uma forma horrivelmente dolorosa, como foi com o meu agora saudoso amiguinho de 4 patas —, mas, se formos comparar ao que cada um de nós verdadeiramente mereceria pelo pecado, a morte terrena, por mais horrível e torturante que possa ser, é apenas uma “amostra grátis”!
Coisas muito piores só não nos acontecem porque Deus é quem é, um ser de inimaginável misericórdia, como Jeremias, em meio à tomada de Jerusalém pelos babilônios, reconhece:
A bondade do SENHOR é a razão de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim.
(Lamentações 3:22 – KJA)
O pecado é coisa tão horrível que tudo isso que vi meu amigo peludo passar nestes 4 dias é apenas um pequeno vislumbre de sua gravidade.
Imagino agora, de forma mais pesada (e mesmo assim não chega nem perto do que realmente foi), o que Jesus sentiu ao ter toda essa massa de podridão, nojo e repugnância sendo jogada sobre si na cruz… e ainda vendo o Pai lhe virando as costas depois de fazê-lo, de modo a que todo o castigo dessa coisa asquerosa caísse sobre ele!
Deus me mostrou, de uma forma muito clara, o que é o pecado — aquele que tantas vezes ignoramos e, em muitas ocasiões, até sentimos prazer ao cometer, pois agrada a essa nossa natureza decaída — e, obviamente inspirado pelo Espírito Santo, isso me impulsionou a lutar com mais ímpeto contra o meu pecado.
Depois dessa dolorosa experiência, que ficará gravada de forma indelével em meu coração, suplico ao Senhor que me dê forças para lutar contra essa podridão que carrego.
REDENÇÃO
Não se trata de “medo do inferno”, pois sei que Jesus já pagou o preço e me livrou disso.
O que quero é agradar ainda mais àquele que por mim morreu e ressuscitou, pois, como nunca anteriormente, fui capaz de ver o que o pecado é e causa… e isso me faz agora querer ainda mais a santificação, assim como meu anseio pela Nova Jerusalém se tornou ainda maior!
Quanto ao meu amiguinho, seu corpo ficou no freezer do hospital e foi cremado no dia seguinte.
Se eu acho que vou vê-lo outra vez?
Não acho, tenho certeza (e não estou falando isso por um sentimento, mas pela Bíblia).
Acho um absurdo essa ideia que muitos tem alardeado hoje, de que os animais não têm alma e na Nova Jerusalém, além de Deus, só existem seres humanos glorificados celestiais e anjos, pois a Bíblia afirma:
Porquanto a criação foi submetida à inutilidade,
(Romanos 8:20-21 – KJA)
não por sua livre escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou,
na esperança de que também a própria natureza criada será libertada do cativeiro da degeneração em que se encontra,
recebendo a gloriosa liberdade outorgada aos filhos de Deus.
Sendo bem franco: como dizer que os animais não vão viver de novo na eternidade, sem reconhecer nisso uma vitória do diabo sobre Deus?
Sim, é isso mesmo, pois significa que o diabo teria conseguido corromper uma parte da criação divina a tal ponto que Deus não seria mais capaz de redimi-la e restaurá-la!
Se o pecado foi do ser humano e condenou os animais (que não pecaram) à semelhança de Adão e Eva, como a remissão por Cristo, que salva o ser humano, não redimiria também os animais?
Que o Negão me espere no céu, pois logo voltaremos a nos ver e fazer a festa do reencontro junto com o Salvador… não é uma questão de “se”, mas apenas de “quando”.
Nos Laços do Calvário
Eduardo Pydd
Nascido na Porto Alegre de 1973, exerceu ministério pastoral na IELB — Igreja Evangélica Luterana do Brasil entre 1999 e 2008. Radicado em São Paulo desde o final de 2008.
Eu chorei e, sim, chorei muito lendo esse relato do Pydd porque ele se despediu do Negão quase do mesmo modo com que tive de me despedir da Peteka, a Yorkshire que me ajudou a sair da depressão e conviveu comigo por impressionantes 18 anos.
Ela foi minha amiga e não posso negar que tinha personalidade, por isso vou aproveitar essa oportunidade para também fazer uma homenagem saudosa… mas o que realmente me tocou foi a interpretação de Romanos apresentada aqui, pois lança uma possibilidade que eu não considerava sobre o fato de, um dia, reencontrá-la.
Obrigado, Pydd!
Não se vendem dois pardais por um asse?
(Mateus 10:29 – ARA)
E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai.
Vamos encontrar nossos animaizinhos nos céus ou não? Vai haver arrebatamento ou não?
Há muitos debates que são absolutamente não essenciais à salvação, mas que têm sido usados por alguns não apenaas para causar porfias, difamações e intrigas, mas, pior que isso, permitir a criação de novas doutrinas divisivas e a fundação de cada vez mais empresas eclesiásticas que nada têm a ver com o verdadeiro Corpo de Cristo.
Isso é apenas mais um indício de que os tempos finais estão se configurando muito rapidamente e, antes que o Senhor volte como um ladrão na noite, é necessário que o profetizado reinado do anticristo se consolide não apenas no Brasil, mas por todo o mundo!
Desde 2023 decidi lançar mão de novos formatos n’O Pior evangelho, com expectativa de auxiliar a aumentar o alcance dos conteúdos relacionados às Escrituras — stories, vídeos, textos mais curtos, autores convidados… — e essa publicação, onde tomei a liberdade de realizar revisão e ilustração, é parte desse projeto.
Obrigado por ter lido até aqui.
Continuo necessitando de toda colaboração possível: comentários, compartilhamentos e reações ajudam a divulgar este conteúdo que foi integralmente produzido na intenção de colaborar para a edificação do Corpo de Cristo no mundo.
Tenho vergonha de pedir.
Odeio incomodar os leitores e passei o ano de 2023 inteiro apenas publicando comentários, como os acima, em letras castanhas sem qualquer pretensão de ser incisivo em meus pedidos. Fiz isso porque ainda depositava uma pequena parcela de credibilidade na justiça e aguardava que ela, diante de minha incontestável deficiência, intimasse a seguradora a honrar o seguro funcional que me vendeu.
Só que deu tudo errado e nem os mais altos graus dos juízes deste país recusam suborno!
De súbito, fui lançado numa situação de extrema necessidade financeira e tanto os links imediatamente acima quanto o vídeo ao lado podem esclarecer o nível de desespero que me acomete e me traz a publicar esse apelo ao final da maioria de minhas publicações.
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