Suponhamos que um grupo de crianças resolveu sair para pescar e acabou invadindo uma lagoa considerada como zona restrita: foram pegos em flagrante e levaram uma multa muito alta, pela qual não têm dinheiro para pagar.
Diante disso, o pai de uma delas se dispõe a fazê-lo e salda a dívida de todas.
Sob a perspectiva da lei, o que consta é que as crianças pagaram a multa, porém, na prática, não foi isso que aconteceu: ainda que o efeito tenha sido a quitação da dívida, ela não foi paga pelos infratores — pois nem mesmo teriam como fazê-lo —, mas assumida por alguém que tinha condições de pagá-la, ainda que sequer tenha infringido a lei.
Embora seja um exemplo bem simples, essa história ilustra perfeitamente o que Cristo Jesus fez pela humanidade decaída em pecado.
Porém, o que deve ser enfatizado nesta reflexão não é o pagamento da dívida em si, mas a absoluta impossibilidade de que o ser humano seja capaz de pagá-la por si mesmo.
Ainda que determinadas crenças promovam a doutrina do Karma — na qual o ser humano morre e reencarna diversas vezes, a fim de pagar em vidas posteriores as faltas cometidas na atual, bem como pagar na atual as faltas cometidas em anteriores — a verdade é que tal ideia não se aplica ao cristianismo bíblico, pois a Escritura não deixa margem para dúvidas a respeito de que só existe uma vida terrena para ser vivida, e o julgamento vem logo ao seu término:
E, assim como aos homens está ordenado morrer uma só vez, vindo, depois disso o Juízo.
(Hebreus 9:27 – KJA)
A dívida não pode ser paga pelo próprio devedor porque ela é infinita, uma vez que é cometida contra o Deus que é infinito.
Tendo sido antecipadamente proibido por Deus, o simples e aparentemente inocente ato de comer uma fruta tornou-se em pecado para Adão e Eva, assim como, conforme podemos ver em Gênesis 3, trouxe consequências terríveis: a vida terrena tornou-se um constante sofrimento e a morte, inevitável… isso sem mencionar a separação eterna de Deus, cujo resultado é a condenação ao sofrimento eterno.
Esse é o resultado pecado e é por isso que o salmista afirma:
Ninguém é capaz de redimir seu próprio irmão, ou pagar a Deus o valor de sua vida,
(Salmos 49:7-8 – KJA)
porquanto o resgate de uma vida não tem preço.
Não há pagamento que o livre.
Não existe possibilidade de se pagar o preço do pecado pelas próprias forças, por mais sinceros e abnegados que sejamos!
Acreditar em tal possibilidade, como fazem os adeptos do Karma, não passa de uma autoilusão que terá um desfecho terrível na hora do juízo.
Alcançando tal entendimento a respeito da gravidade do pecado, pode-se compreender — ainda que de forma superficial, na limitada capacidade humana — o porte da dívida que o ser humano tem com Deus… e é por isso que só mesmo o próprio Deus, na pessoa de Jesus, poderia pagar tal dívida!
E, em sua onisciência, é claro que Ele já sabia o que aconteceria após concluir a obra da criação: Deus sempre teve plena consciência de que o ser humano cairia em pecado, tanto que o plano da Salvação já estava traçado, pois o Cordeiro (Jesus Cristo), conforme Apocalipse 13:8, “foi morto desde ANTES da fundação do mundo”!
Apenas alguém infinito poderia pagar essa dívida infinita… e foi o que Ele fez.
Não por que tivesse qualquer obrigação, mas unicamente por amar o ser humano a ponto de desejar, voluntariamente, fazê-lo.
Dessa forma, sofreu um castigo que nunca mereceu, mas que poderia pagar, a fim de que os reais merecedores, que nunca poderiam tê-lo pagado, fossem libertados do mesmo.
Neste ponto, há algo a destacar: o autor da epístola aos Hebreus escreve aos mesmos em uma situação bem específica: o judaísmo, na ocasião, não era perseguido pelo Império Romano, que tinha por costume não interferir nas religiões dos povos conquistados, mas não permitia o surgimento de novas religiões, com o objetivo de que todos, com o tempo, acabassem por aceitar a religião romana.
Quando Israel caiu sob o domínio Romano, o judaísmo já era praticado há séculos, mas o cristianismo só surgiu depois da dominação.
A princípio, os romanos achavam que o cristianismo era apenas uma “nova versão” do judaísmo, mas quando perceberam que era uma fé inteiramente diversa, aí — devidamente apoiados pelas autoridades judaicas, que, inclusive, incitavam — a perseguição, da qual Paulo foi um expoente antes de sua conversão, começou.
Muitos judeus convertidos — a fim de evitar a prisão, tortura e morte — estavam voltando a praticar o judaísmo e, ao menos publicamente, negando serem cristãos por causa dessa situação difícil.
E é por isso que o autor destaca tanto a superioridade da Nova Aliança em relação à Antiga (especialmente entre os capítulos 7 a 10) como, já de imediato, exorta os leitores a não deixarem de lado a salvação pelo que quer que fosse, pois não haveria escapatória para o que a desprezassem:
Por isso, é fundamental prestarmos atenção, mais ainda, às verdades que temos ouvido, para que jamais nos desviemos delas.
(Hebreus 2:1-4 – KJA)
Pois, se a mensagem proferida por anjos provou sua firmeza, e toda transgressão e desobediência recebeu a devida punição, como nos livraremos se desconsiderarmos tão grande salvação?
Esta salvação, tendo sido proclamada pelo Senhor, foi depois confirmada a nós pelos que a ouviram.
E, juntamente com eles, por intermédio de sinais, Deus testemunhou feitos portentosos, diversos milagres e dons do Espírito Santo, distribuídos conforme sua vontade.
É por isso que a Salvação, embora seja de graça para o ser humano, custou um alto preço para Deus: a morte de seu Filho, que ressuscitou no terceiro dia, a fim de proclamar a vitória final sobre o pecado, a morte e o diabo, dando a reconciliação com o Pai a todos os que nele creem.
Vivamos nós, portanto, de acordo com a graça que recebemos, mas sempre tendo em mente que ela nunca foi de graça.
Nos Laços do Calvário
Eduardo Pydd
Nascido na Porto Alegre de 1973, exerceu ministério pastoral na IELB — Igreja Evangélica Luterana do Brasil entre 1999 e 2008. Radicado em São Paulo desde o final de 2008.
TÍTULO ORIGINAL: A SALVAÇÃO É PELA GRAÇA, MAS NÃO É DE GRAÇA
Cada vez menos pessoas têm sido capazes de reconhecer seus pecados, uma vez que chamá-los por seus verdadeiros nomes é uma atitude politicamente incorreta, porém isso é apenas mais um indício de que os tempos finais estão se configurando muito rapidamente e, antes que o Senhor volte como um ladrão na noite, é necessário que o profetizado reinado do anticristo se consolide não apenas no Brasil, mas por todo o mundo!
Na fase 2023 d’O Pior evangelho decidi lançar mão de novos formatos na expectativa auxiliar a aumentar o alcance dos conteúdos relacionados às Escrituras — stories, vídeos, textos mais curtos, autores convidados… — e essa publicação, onde tomei a liberdade de realizar revisão e ilustração, é parte desse projeto.
Obrigado por ter lido até aqui.
Continuo necessitando de toda colaboração possível: comentários, compartilhamentos e reações ajudam a divulgar este conteúdo que foi integralmente produzido na intenção de colaborar para a edificação do Corpo de Cristo no mundo.
Tenho vergonha de pedir.
Odeio incomodar os leitores e passei o ano de 2023 inteiro apenas publicando comentários, como os acima, em letras castanhas sem qualquer pretensão de ser incisivo em meus pedidos. Fiz isso porque ainda depositava uma pequena parcela de credibilidade na justiça e aguardava que ela, diante de minha incontestável deficiência, intimasse a seguradora a honrar o seguro funcional que me vendeu.
Só que deu tudo errado e nem os mais altos graus dos juízes deste país recusam suborno!
De súbito, fui lançado numa situação de extrema necessidade financeira e tanto os links imediatamente acima quanto o vídeo ao lado podem esclarecer o nível de desespero que me acomete e me traz a publicar esse apelo ao final da maioria de minhas publicações.
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Parafraseando o apóstolo Paulo em Efésios 6:23-24, que a graça e a paz sejam conosco, todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade, hoje e para todo o sempre!